Renato Alves (texto e fotos)
Para divulgar (e faturar mais) a diversidade cultural das diferentes etnias sul-africanas, foram construídas vilas multiculturais próximas a reservas e das grandes cidades da África do Sul. Algumas ficam dentro ou ao lado de lodges (pousadas). É o caso da Lesedi African Lodge, a 40 km do centro de Johannesburgo. A atração, para turista ver, soa artificial, mas serve como uma aula sobre os verdadeiros pioneiros sul-africanos.
Na Lesedi, a visita começa com exibição de vídeo que explica as diferenças das etnias. Diferenças essas que são conferidas por um passeio de duas horas pelas réplicas das tribos. O tour é comandado por tradicionaiscontadores de história africanos. Eles guiam grupos de visitantes pelas cabanas rurais(também conhecidas como rondavels). Cada uma mostra os costumes de uma etnia.
Os descendentes encenam histórias como a dosguerreiros zulus. A etnia mais atraente, pelo exotismo, é a Ndebele.  Uma das marcas registradas da tribo Ndebele é sua arte-mural, que cobre as paredes (internas e externas) das casas com desenhosgráficos supercoloridos. Um detalhe: apenas as mulheres desenham.
As cabanas têm pinturas geométricas e coloridas na parede. As mulheres são diferenciadas das solteiras pelas pesadas argolas douradas no pescoço e nas pernas. Quanto mais argolas, mais rico é o marido dela. Para quem faz questão da autenticidade, visite a aldeia Ndebele localizada em Botshabelo, a 10 km de Middleburg.
De volta à Lesedi, a penúltima etapa do passeio é uma amostra das danças sul-africanas. As mulheres dividem o palco com os homens, embaladas por ritmos fortes. As pancadas nos instrumentos de percussão lembram um misto de escola de samba com Olodum. Por fim, os turistas são convidados a integrar o show. O melhor é entrar no clima e dançar de mãos dadascom os artistas.
Terra dos zulus
Em Shakaland, a cidade cinematográfica que virou parque temático, o visitante tem uma boa visão dos costumes do povo zulu, maioria na África do Sul. Construída em 1984 para a série de TV Shaka Zulu, a aldeia, dividida em casas, espaços para rituais e quartos de hotel, fica na província Kwazulu-Natal, a uma hora e meia de carro de Durban.
Uma das pessoas envolvidas na produção do seriado Shaka Zulu era Barry Leitch, branco, casado,pai de um filho com uma zulu. Após o filme, Barry comprou a área para evitar a destruição da aldeia e a abriu à visitação. A estrutura cresceu e hoje é controlada pela empresa Protea Hotels.
Muitos zulus que iniciaram o projeto ainda estão lá. Ao todo, 80 famílias vivem do trabalho deartesanato, da dança ou do funcionamento da parte hoteleira. Um exemplo de conservação sustentável das tradições. O tour de três dias, com almoço, custa o equivalente a R$ 70.
A aldeia é toda construída com técnicas tradicionais, nas quais os homens fazem a estrutura do teto, e as mulheres cobrem-na com folhas e galhos secos, sem esquecer o necessário conforto para os hóspedes. Reinam as cores marrom, ocre, terra, laranja-enferrujado e vermelho-queimado.
Os zulus podem não morar nesse vilarejo, e as plantas podem ser colocadas com um gosto que não lhes pertence, mas o fato é que a peça funciona e convence por não ser uma paródia. As pessoas realmente encarnam seus ancestrais. E se orgulham disso.
Os novos zulus fazem demonstrações delançamentos de lanças, músicas e danças. Também contam a história de Shaka, que deu origem a Shakaland. Shaka se tornou chefe zulu após a morte de  Senzangakona, em 1815. Tinha manias de déspota, mas era um estrategista talentoso. Reuniu os clãs menores em um império zulu e infligiu derrotas ao exército inglês.
O líder zulu criou a temida assegaai, uma lança curta. Ele colocava os guerreiros em um semicírculo, em volta do campo de batalha. O semicírculo ainda se dividia ao meio, formando dois grupos.
O som de um dos grupos zulu simulava o ataque, enquanto o outro cercava o inimigo. Então, os homens mais experientes avançavam e, geralmente, aniquilavam os soldados inimgos.
Shaka foi assassinado em 1828 pelo seu meio-irmão, Dingane. No Museu Sul-Africano, naCidade do Cabo - o destino mais famoso do país de Nelson Mandela -, estão expostos objetos originais dessa época gloriosa dos zulus
http://ultimaparada.wordpress.com/2009/01/10/africa-do-sul-aldeias-preservam-cultura/